1.INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA SOCIAL
1.1 Psicologia social: tentativa de definição
1.1.1 Tópicos da psicologia social
1.1.2 Relação com outros campos
1.2 Esboço histórico da psicóloga social
2. PSICOLOGIA SOCIAL: SOLIDÃO
2.1 Mas o que é a solidão?
2.2 O que se sente quando se está só?
2.3 Quais os grupos mais vulneráveis á solidão?
2.4 O que fazem as pessoas quando se sentem sós?
2.5 Quebrar as barreiras do isolamento social
2.6 Crónica
3. CONCLUSÃO
1. INTRODUÇÃO Á PSICOLOGIA SOCIAL
Nós, os seres humanos somos animais sociais. Vivemos em grupos, sociedades e culturas. Organizamos as nossas vidas em relação com outros seres humanos e somos influenciados pela história, pelas instituições e pelas actividades. Se há quem exalte ou quem condene a sociedade, não restam dúvidas de que os outros desempenham grande importância nas nossas vidas. No fundo, o estudo das pessoas enquanto animais sociais é o que a Psicologia Social aborda.
O seu domínio é geralmente apresentado como sendo novo, o que é correcto, na medida em que a Psicologia social contemporânea, tal como hoje a conhecemos, conta menos de cem anos. Em 1979 Cartwright avançou que 90% de todos os psicólogos sociais que tinha havido ainda estavam vivos. Muito provavelmente nos anos noventa essa percentagem ainda está certa. Contudo, muitos dos problemas com que actualmente se confrontam os psicólogos sociais são quase sempre aspectos universais do comportamento social. Uma viagem por avenidas da compreensão de tais comportamentos reveste-se de importância e fascínio.
O estudo do comportamento humano é encarado por outras disciplinas como seja a sociologia, a antropologia, a historia, a economia, as ciências politicas e a biologia. A focalização dos problemas e as metodologias utilizadas diferenciam as diversas ciências do comportamento. A Psicologia social é um domínio distinto na abordagem do comportamento humano, apesar de se basear em empréstimos e de aprender com as diversas ciências do comportamento.
1.1 Psicologia social : tentativa de definição
Definir formalmente a grande maioria dos domínios científicos é uma tarefa complexa. No caso vertente da psicologia social, as dificuldades amplificam-se devido a duas ordens de factores: a) diversidade de domínio e b) a sua rápida taxa de mudança. Tendo em conta que não se trata de uma ciência concreta e rigorosa, a sua definição torna-se mais difícil. Segundo Allport (a melhor definição até hoje encontrada) psicologia social designa-se como a ciência que tenta “compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos e comportamento dos indivíduos são influenciados pela presença actual, imaginada ou implicada de outros”.
1.1.1 Tópicos da psicologia social
Uma outra maneira de responder á questão ‘O que é a psicologia social?” é descrever os tópicos que ocupam os psicólogos sociais. A psicologia social cobre um vasto domínio existindo muitos tópicos que são abarcados por ela. Agressão, atitudes, atracção e afiliação, auto consciência, conformidade, dissonância, influência social, investigação intercultura, processos cognitivos, processos de grupo, e solidão são exemplos de tópicos desta área. A solidão é um tema que abordarei adiante.
É necessário frisar que estes tópicos não têm carácter duradouro. Certos temas de investigação perduram enquanto outros cessam.
1.1.2 Relação com outros campos
A psicologia social mantém uma relação próxima com vários campos, em especial com a Sociologia e a Psicologia. Segundo Moscovici, a Psicologia Social distingue-se quer da Sociologia quer da Psicologia pela mesma característica. As duas últimas põem em relação um sujeito e um objecto, ao passo que na psicologia social a relação dual (sujeito-objecto), é substituído por uma relação ternária: sujeito individual (ego), sujeito social e o objecto (físico, social. Imaginário ou real).
A psicologia é o estudo científico do indivíduo e do comportamento individual. Muito embora este comportamento possa ser social, não o é necessariamente.
A sociologia é o estudo científico da sociedade humana. Os sociólogos analisam o comportamento humano num contexto mais amplo. Abordam tópicos tais como instituições sociais (família, religião, politica), estratificação dentro da sociedade (classes sociais, raça, papeis sexuais), etc.
A psicologia social surgiu, assim, para estabelecer uma ponte entre a psicologia e a sociologia.
1.2 Esboço histórico da psicóloga social
É difícil situar o nascimento da psicologia social, pois esta disciplina vai aparecer como resultado de um desenvolvimento progressivo. Sabe-se, contudo, que a Psicologia social resulta da confluência de duas correntes: corrente francesa e a corrente anglo-saxónica.
a) Corrente francesa
Comte (1798-1857), que inventou o termo “sociologia” e muito fez para situar as ciências sociais na família das ciências, foi o primeiro autor a ter concebido a ideia de uma psicologia social.
b) Corrente anglo-saxónica
Por outro lado, nos países anglo-saxónicos, e em particular, nos EUA foram editadas muitas obras que possibilitaram o progresso desta área. Refiro-me a livros como “Ètudes de Psychologie Sociale” de Gabriel Tarde (1843-1904) ou o manual de Edward Ross (1866-1951) tendo por titulo “Psicologia Social”.
Nos anos 60 o caimão da psicologia social expandiu-se de modo acentuado. Os psicólogos sociais fizeram incidir a sua atenção em áreas de investigação, tais como, como é que efectuamos julgamentos acerca do comportamento das pessoas, como negociamos e resolvemos conflitos, como fazemos amigos, etc. Apesar deste crescimento notório nos anos 60, surge a crise de confiança levando psicólogos sociais a enveredarem por debates de extrema vivacidade. È discutida a ética dos procedimentos utilizados na investigação, a validade dos resultados, e até que ponto é possível generalizar os resultados no tempo e no espaço.
Durante os anos 70, para além de se continuarem linhas de estudo dos temas anteriores, foram postos em cena novos tópicos e foram investigados com um enfoque novo e mais sofisticado. Entre os mais importantes, assinala-se a discriminação e a psicologia ambiental.
Nas últimas décadas tem-se também verificado um crescente interesse pela investigação aplicada. Hoje, muito psicólogos sociais concordariam com o lema de Lewin “o mundo é o meu laboratório”. Os psicólogos sociais estão-se também a tornar mais sensíveis ao impacto da cultura no comportamento social.
Com o aparecimento de novas tendências emergirão outros interesses de investigação e outras técnicas. Suceda o que suceder no campo da psicologia social, ela permanecerá activa na prossecução da sua contribuição para o bem-estar humano.
2. PSICOLOGIA SOCIAL: SOLIDÃO
É um erro defender que o significado da solidão é o mesmo para todas as pessoas. Á semelhança do amor, a solidão é um conceito vago, revestindo-se de muitos significados. Apesar de diversas definições tenham tido um grande impacto no desenvolvimento teórico e na estimulação do trabalho empírico (trabalho proveniente da experiência), não há uma definição que seja universalmente aceite pelos especialistas. Essas diferentes definições são o reflexo de diferentes orientações teóricas que se relacionam com alguns aspectos importantes no modo de contextualizarmos a solidão.
Nas definições apresentadas há um acordo em três aspectos gerais:
• A solidão é uma experiência subjectiva que pode não estar relacionada com o isolamento objectivo;
• Esta experiência subjectiva é psicologicamente desagradável para o indivíduo;
• A solidão resulta de alguma forma de relacionamento deficiente.
A solidão não é muito simplisticamente o que se sente quando se está sozinho. Se podemos sentir a solidão quando estamos sozinhos no caso de querermos estar com alguém, também se pode sentir quando estamos com outras pessoas, caso desejássemos antes estar com mais alguém. O âmago da solidão é a insatisfação em relação ao nosso relacionamento social. Se bem que a solidão possa por vezes atingir proporções psicopatológias, a população em geral é sobretudo atingida por amplitudes “normais” de solidão.
2.1 Mas o que é a solidão?
Sullivan (1953) «A solidão...é a experiência excessivamente desagradável e motriz ligada a uma descarga desadequada da necessidade de intimidade humana, de intimidade interpessoal.»
Lopata (1969) «A solidão é um sentimento sentido por uma pessoa… (experienciando) um desejo por uma forma ou um nível de interacção diferente do que se experiência no presente.»
Weiss (1973) «A solidão é causada não por se estar só, mas por se estar sem alguma relação precisa de que se sente a necessidade ou conjunto de relações… A solidão aparece sempre como sendo uma resposta à ausência de algum tipo particular de relação ou, mais precisamente, uma resposta à ausência de alguma provisão relacional particular.»
Perlman e Peplau (1981) «A solidão é uma experiência desagradável, que ocorre quando a rede de relações sociais de uma pessoa é deficiente nalgum aspecto importante, quer quantitativamente quer qualitativamente.»
Rook (1984) «Uma condição estável de mal-estar emocional que surge quando uma pessoa se sente afastada, incompreendida, ou rejeitada pelas outras pessoas e/ou lhe faltam parceiros sociais apropriados para as actividades desejadas, em particular actividades que lhe propiciam uma fonte de integração social e oportunidades para intimidade emocional.»
2.2 O que se sente quando se está só?
Quando uma pessoa se sente sozinha, experiência angústia, insatisfação e exclusão. Tal não significa que sintamos a solidão sempre do mesmo modo, pois diferentes pessoas, perante situações distintas, podem vivenciar sentimentos de solidão desiguais. Um estudo que foi efectuado com pessoas viúvas permite ilustrar a abundância de sentimentos que acompanham a experiência de solidão. Para essas senhoras a solidão significa um ou mais dos seguintes sentimentos:
o Desejar estar com o marido
o Querer ser amada por alguém
o Querer amar e tratar de alguém
o Querer partilhar experiências quotidianas com alguém
o Querer ter alguém por casa
o Precisar de alguém para partilhar o trabalho
o Desejo de uma forma prévia de vida
o Experienciar falta de estatuto
o Temer a sua incapacidade para fazer novos amigos
Vê-se, pois, que a solidão inclui desejo do passado, frustração com o presente e medos acerca do futuro. Mesmo que não experienciaram a perda do marido, a solidão pode aparecer associada a uma vasta gama de sentimentos. Rubenstein e Shaver, a partir de um inquérito efectuado na população em geral, encontram quatro conjuntos de sentimentos que as pessoas dizem ter quando estão sós: desespero, depressão, aborrecimento impaciente e autodepreciação (auto desvalorização).
2.3 Quais os grupos mais vulneráveis á solidão?
De facto, há certos grupos de pessoas que são mais vulneráveis à solidão que outras. Procurei saber as características demográficas identificáveis com a idade, o sexo, o estado civil e outras características.
Idade
Existe na nossa cultura o estereótipo de que as pessoas idosas são pessoas solitárias. As pessoas jovens e as pessoas idosas concordam em que são as idosas as que mais se sentem sós. Este estereótipo não se confirma, todavia, quando as pessoas revelam a sua própria experiência de solidão. A tendência geral que se encontra é para a solidão diminuir com a idade, obtendo as pessoas mais idosas pontuações mais baixas de solidão. Rubenstein, Shaver e Peplau (1979) encontraram as pontuações mais elevadas na solidão na faixa etária dos 18-25 anos e mais baixa após os 70 anos. Parlee (1979) encontrou que 79% dos sujeitos com menos de 18 anos diziam sentir-se sós algumas vezes ou muitas vezes comparados com 53% dos 45 aos 54 anos e 37% das pessoas com mais de 54 anos.
Muito embora a associação entre a juventude e a solidão faça com que o estereótipo de que as pessoas idosas sejam as que mais sofrem da solidão, as razões da sua diminuição ao longo do ciclo vital ainda não estão bem compreendidas. Em parte pode acontecer que os jovens queiram falar mais dos seus sentimentos e conhecimento da solidão que as pessoas idosas. Também é verdade que os jovens encontram muitas transições sociais, tais como deixar a casa dos pais e viver na sua própria casa, entrando na faculdade, obtenção de um primeiro emprego, todas elas podendo causar a solidão. À medida que as pessoas vão avançado na idade, as suas vidas sociais podem se tornar estáveis. A idade pode também acarretar maiores habilidades sociais e expectativas mais realistas acerca das relações sociais.
Sexo
Na adaptação feita para a população portuguesa da escala de solidão de UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) não se encontram diferenças nas pontuações de solidão segundo sexos, o que pode parecer um resultado paradoxal. È frequentemente assumido que as mulheres, em comparação com os homens, são mais emotivas e apresentam maiores taxas de certas doenças mentais. Seria de esperar, tendo em conta a tendência geral para reacções emocionais negativas serem mais usuais nas mulheres, que estas sentissem mais frequentemente a solidão que os homens. Contudo, os estudos efectuados sobre a solidão não são concludentes sobre as diferenças sexuais na solidão. Por um lado, no estudo de validação da Escala se Solidão da UCLA os autores não encontram diferenças segundo o sexo. Por outro lado, Weiss (1973) assinala, através do recurso ao inquérito, que as mulheres estão mais inclinadas a sentir-se sós do que os homens. Esta diferença de resultados pode provavelmente ser atribuída à medida utilizada. Globalmente os estudos que utilizam a escala da UCLA, e foi no caso, não acharam diferenças. Esta escala não questiona directamente os sujeitos sobre se sentem sós, mas procuram avaliar a solidão indirectamente. A natureza indirecta desta escala permite que os homens expressam muito presumivelmente a sua solidão subjacente de modo mais livre que os estudos de inquérito em que se recorre a questões directas. Quando se recorre à avaliação directa, como é o caso das alegações em inquéritos, diferenças segundo o sexo tendem a emergir, as mulheres assinalando mais frequentemente a solidão do que os homens. Entre as explicações possíveis para os homens auto-censurarem a expressão da solidão põe-se invocar a influência social. A reticência dos homens em assinalarem a solidão esta em consonância com os estereótipos sexuais. Segundo estes estereótipos não se espera que os homens exprimam as suas “fraquezas” emocionais.
Estado civil
As pessoas que não estão casadas sofrem mais da solidão que as casadas. Todavia, num estudo, quando se subdividia o grupo das pessoas não casadas, a solidão era maior nas pessoas viúvas e divorciadas que nas solteiras. Os valores destas não diferem das pessoas casadas. A solidão parece, pois, ser determinada pela perca de uma relação conjugal que pela sua ausência.
Outras características
A solidão é mais habitual entre as pessoas pobres que entre as ricas. Boas relações podem manter-se mais facilmente quando as pessoas têm tempo e dinheiro para actividades de lazer. Contudo em Portugal não se encontram diferenças na solidão entre jovens de níveis sócio-culturais dissemelhantes. No inquérito de Rubenstein e Shaver não aparecem diferenças na solidão entre pessoas que residem em zonas rurais e as que residem em zonas urbanas. Além disso as pessoas que mudaram de residência um certo numero de vezes não manifestaram solidão do que aquelas que só mudaram raramente. No entanto, Rubenstein e Shaver descobriram que as pessoas cujos pais eram divorciados sentiam-se mais solitárias que as pessoas cujos pais não tinham divorciado. Os sujeitos cujos pais divorciaram antes dos 18 anos sentiam-se mais sós na idade adulta, e muito especialmente se o divórcio ocorreu antes do sujeito ter 6 anos. Surpreendentemente a morte de um dos pais durante a infância não tem efeito duradoiro.
2.4 O que fazem as pessoas quando se sentem sós?
Ao nível mais básico as pessoas diferem da facilidade em reconhecer ou admitir a solidão. O temor de estigma, por exemplo, pode levar algumas pessoas sós a evitar a etiqueta «só» mesmo quando procuraram ajuda profissional. Fromm-Reichmann sugeriu que não parece ser fácil falar mesmo de estados benignos de solidão. Algumas pessoas podem proteger-se do sofrimento da solidão negando a sua experiência. Alguns autores chama a atenção que os clínicos devem estar preparados para inferir a presença da solidão em clientes que são relutantes em admiti-la ou que a experienciam ao nível inconsciente.
Para além de diferenças em querer conhecer a sua solidão, as pessoas podem também diferir nas acções específicas que realizam para se confrontar com a solidão. Num inquérito de Rubenstein e Shaver as quatro respostas mais comuns ao que faziam as pessoas quando se sentiam sós foram: ver televisão (60%), ouvir música (57%), chamar um amigo (55%) e ler (50%).
Num estudo semelhante com estudantes universitários, Paloutzian e Ellison (1979) encontraram várias estratégias de confronto associadas á solidão:
1. Respostas orientadas sexualmente (e.g. beber, drogar-se, encontros sexuais);
2. Respostas religiosas (e.g. rezar, ler a bíblia);
3. Respostas de procura (e.g. ir dançar, conduzir);
4. Diversões não sociais (e.g. ocupar-se, ler, estudar, trabalho);
5. Contacto íntimo (e.g. falar com um amigo íntimo sobre os seus sentimentos; passar o tempo com um amigo íntimo só para estar junto dele);
6. Passividade (e.g. dormir).
Além disso esses investigadores encontraram que os estudantes que avaliavam as suas habilidades sociais de modo mais positivo referiam ser menos provável enveredar por actividades sensuais ou de diversão quando sós e ser um pouco mais provável entregarem-se a actividades com cariz intimo e religioso. Os sujeitos que percepcionam as suas habilidades sociais de modo mais positivos viam também as reacções sensuais e de diversão como sendo menos eficazes para reduzir os sentimentos de solidão e as reacções de contacto intimo como as mais eficazes.
2.5 Quebrar as barreiras do isolamento social
A solidão subestima a importância das outras pessoas nas nossas vidas. Enquanto animais sociais dependemos das outras pessoas para a satisfação de inúmeras necessidades psicológicas. No caso dessas necessidades não serem preenchidas por falta de pessoas com que se tenha relacionamentos animais ou amorosos, podemos não experienciar todo um rosário negativo de consequências psicológicas e físicas. Estudos da solidão também menosprezam a nossa resiliência (capacidade de um ser humano sobreviver a um trauma). Mesmo se podemos recorrer à ajuda profissional para os nossos problemas, na maioria dos casos podemos usar os nossos próprios recursos para tratar o problema. Se as dificuldades nas nossas relações podem despoletar a nossa solidão, as nossas relações também podem proporcionar a cura.
È necessário, contudo, um grande esforço para melhorar as nossas interacções com os outros para ultrapassar a solidão. As pessoas sós tendem a ficar absorvidas pelas suas profissões ou a voltar-se para o álcool e para as drogas. Algumas pessoas recorrem á música para substituir as relações interpessoais, mas canções de separação, de ausência de amor e de tristeza podem aumentar a solidão. Dado que estas estratégias de confronto podem muitas vezes piorar a situação, duas técnicas que têm sido utilizadas com sucesso, e muitas vezes em conjunto, são a terapia cognitiva e o treino das habilidades sociais.
Os auto-esquemas das pessoas sós suscitam uma atenção selectiva a informação negativa sobre nós próprios (as), confirmando ou fortalecendo, pois, um autoconceito negativo. A terapia cognitiva visa modificar essas cognições. Por exemplo, se uma pessoa se percepciona como sendo enfadonha, o terapeuta pode convence-la que se trata de uma autopercepção incorrecta ou ajudá-la a corrigir essa falsa crença. Tais mudanças de cognições têm de se acompanhar de mudanças comportamentais, as pessoas que sentem solidão não só têm falta de habilidades sociais apropriadas, como também se sentem ansiosas por não possuírem essas habilidades. Uma forma de treino de habilidades sociais é expor as pessoas sós que desempenham papéis com sucesso do posto de vista interpessoal e vídeo. A pessoa pode também praticar habilidades sócias numa situação não ameaçadora a ver s resultados em vídeo. Interacções especificas, tais como iniciar uma conversa podem ser prescritas e ensaiadas.
2.6 Crónica
06/06/2005
Tormento da solidão
Por Pedro J. Bondaczuk
"A solidão é e sempre foi a experiência central e inevitável de cada ser humano". Essa afirmação não é da minha autoria, mas do escritor Thomas Wolfe.
Há pessoas que juram que nunca se sentiram sozinhas. Claro que mentem! Garantem que contam até com excesso de companhia para o seu gosto. Inventam, como suposta prova de superpopulação nas suas vidas, uma multidão de parentes e amigos, que nunca os deixariam ficar sós. A solidão a que Wolfe se refere não é a da ausência dos outros ao nosso redor. É mais profunda, e, portanto, mais trágica, posto que difícil (senão impossível) de suprir ou mesmo de remediar. É a caracterizada pela carência de comunicação. Não aquela superficial, dos gestos ensaiados e das palavras ditadas pelas convenções, mas a real, a verdadeira, a genuína: a dos nossos mais recônditos sentimentos e inconfessáveis inquietações. Para que esta se concretize, faltam palavras e símbolos.
Esses tormentos, os da incomunicabilidade e da incompreensão, temos que suportar sozinhos, sem podermos compartilhar, sequer (e muitas vezes principalmente), com aqueles a quem mais amamos e em quem depositamos irrestrita confiança. O principal motivo é que nossas emoções são tão complexas e individuais, que não conseguimos nem mesmo verbalizar o seu conteúdo. Temos só uma vaga e truncada intuição acerca da sua natureza e extensão. Como queremos que os outros compreendam um sentimento que temos, de facto, mas que não entendemos o que é e nem sabemos definir como se manifesta?
Aliás, a rigor, sequer conhecemos, com razoável aproximação, "o que" sentimos ou "o que " nos inquieta. É uma sensação vaga, imprecisa, intermitente e por isso irremediável. A nossa busca pela razão está apenas no princípio, embora, de maneira arrogante, achemos que somos sumidades de racionalidade.
A pior das solidões é a que sentimos quando acompanhados, no meio de uma multidão. Não se trata de uma questão quantitativa, mas de compreendermos os outros e nos fazermos compreendidos por eles. Maridos e mulheres, pais e filhos, irmãos, parentes de quaisquer graus ou amigos, por mais íntimos que sejam, por maior afinidade que tenham connosco ou por mais que necessitemos de suas presenças, jamais nos completam. A maioria dos sentimentos, das emoções, dos medos e das inquietações têm que suportar de forma absolutamente solitária.
Quanto mais racionais nos tornamos, mais temos que aprender, e nos acostumar, a conviver com a solidão. A nossa evolução não é acompanhada, necessariamente, pela dos que nos rodeiam. Estes, muitas vezes, até se afastam, o que é mais comum do que se pensa. Entregam-se a superstições, escondem-se no álcool, nas drogas, ou em diversões baratas e banais, que não passam de perda de tempo, evitando o incómodo encontro consigo próprias, numa tentativa desesperada (e inútil) de preencher esse vazio na alma que sentem, mas não sabem definir. Não suportam encarar suas fraquezas, patifarias e defeitos.
No silêncio do meu quarto, às voltas com minhas indefiníveis inquietações, pensando nas pessoas que sofrem de males mais palpáveis e concretos do que os da solidão, como fome, frio, dores provocados por doenças incuráveis e pelos maus tratos recebidos da vida, carentes de absolutamente tudo e muitas vezes ansiando, desesperadas, por alguém que somente as ouça, as valorize e as trate uma única vez com dignidade e respeito, faço, ansioso por uma resposta que sei de antemão que não terei, a mesma pergunta que o compositor Paul McCartney fez, na inspirada letra da canção "Eleanor Rigby", sucesso dos Beatles: "Haverá um lugar especial para os solitários?" Ou, para ser mais preciso em relação aos meus anseios, indago: "Haverá um lugar especial onde possamos estabelecer comunicação total com os semelhantes, sem precisar de palavras?" Fica a pergunta no ar...Mas acredito que não!
3. CONCLUSÃO
Platão fala de «hermafrodite», um ser mítico que habitou a terra antes de haver homens e mulheres. Esta criatura tinha características humanas, mas continham ambos os sexos num corpo. Dado ser completo em si mesmo, era tão poderoso que rivalizava os deuses. Por isso Zeus tomou um dos seus raios e dividiu a hermafrodite em dois sexos. Desde esse tempo, segundo o mito, homens e mulheres foram forçados a procurar-se um ao outro e a juntar-se para ultrapassar a sua imperfeição.
O mito da hermafrodite é uma tentativa poética em relação á necessidade de contacto humano que estudarei adiante. Dado que “nenhum homem é uma ilha intacta” como escreveu o poeta John Donne, não encontramos o nosso sentido para a vida sós. Pelo contrário, encontramos o nosso sentido da vida na relação com outras pessoas, membros da família, amigos, namorados.
A solidão constitui um lado perturbante da atracção. Trata-se de uma experiência dolorosa que se tem quando as nossas relações sociais não são adequadas. Esta é experienciada pelo ser humano em qualquer que seja o lugar que habite. É porventura difícil imaginar uma pessoa que não se tenha sentido sozinha alguma vez na sua existência.